No ano de 2009 o “Glorioso Esporte Clube Internacional” completará 100 anos de existência e como CAMPEÃO DO MUNDO!

     João Leopoldo contava, para mim, que no dia 4 de abril de 1909, quando ainda morava com seus pais, junto com seus amigos resolveram criar um clube de futebol e marcaram reuniões para tratar do assunto. Na época morava com seus pais, na então Avenida Redenção, nº 141, nº que posteriormente mudou várias vezes, como mudou tambem o nome da rua, hoje a avenida João Pessoa, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,


     Na época, segundo João expunha, ele já trabalhava. Como pretendesse estabelecer-se por conta própria com uma casa de comércio de tecidos, no que seria auxiliado financeiramente por seu pai, fazia um estágio como aprendiz na loja do sr Luís Marone, lá também trabalhava o rapaz Antônio Coiro e ambos eram amigos dos irmãos Poppe, adeptos de futebol.

     Todos eles, desse grupo, entendiam que era necessário criar um clube, que reunisse e divertisse através de competições esportivas, no caso futebol, pessoas, incluindo as menos consideradas na sociedade de então. Esses jovens portavam sentimentos de igualdade social e de rechaço ás discriminações raciais e econômicas.

     Na primeira reunião realizada para instalação do clube de futebol, que congregou vários dos amigos, que pensavam da mesma forma, estavam presentes além do jovem filho do dono da casa, João Leopoldo, os irmãos Henrique, Luiz, José Carlos Poppe, mais Antonio Coiro, Honório Andrada, Valdemar e Adroaldo Fachel, Alcides Ortiz, Fagundes das Chagas, o capitão Graciliano Ortiz Pantaleão Gonçalves de Oliveira, Legendre de Chagas, Manoel Lopes da Costa, Irineu dos Santos e outros...

     A reunião era realizada com portas abertas, por isso rapazes que por ali passavam entravam e participavam da mesma. Era inicialmente esperado o comparecimento de aproximadamente dez pessoas, entretanto chegaram a quarenta, tornando-se necessário solicitar cadeiras emprestadas para os vizinhos.

     Nessa primeira reunião, o rapaz Henrique Poppe foi o empolgado orador. Resolveu tambem o grupo, que deveria eleger desde logo o primeiro presidente para o recém inaugurado clube. Entenderam realizar a votação de forma verbal. O primeiro nome indicado foi de João Leopoldo Seferin, aceito por aclamação unânime, pelos presentes e foram considerados todos os presentes membros fundadores.

     Para vice presidente foi escolhido Pantaleão Gonçalves de Oliveira, para primeiro secretário Legendre Chagas de Oliveira, segundo secretário Waldemar Fachel e capitão José Poppe, orador Henrique Poppe, comissão de campo João Luis de Andrade Vasconcelos, Irineu dos Santos, Luiz Fernando Poppe, Alcides Filho Ortiz.

     O jornal Correio do Povo no dia 22 de abril de 1909 em suas páginas róseas publicou a notícia da fundação do clube. E, as palavras ditas acompanhadas de um sorriso e publicadas, pelo capitão Ortiz, escolhido presidente honorário do clube era: “É uma brincadeira dos meninos”

     João Leopoldo, era pessoa de tipo ariano, descendente de portugueses, pele clara, cabelos ruivos, olhos azuis, na época um rapaz com dezenove anos. Era idealista como os outros amigos, preconizador da igualdade humana, sem estigmas ou preconceitos. Para mim nunca demonstrou que fosse positivista, antes era um espiritualista. Entendiam esses jovens rapazes, que o novo clube deveria ser aberto para o povo, ser popular, principalmente para os negros, que eram impedidos de ingressar em outras sociedades desportivas da época.

     Na reunião, chegou a hora de batizar o recém criado clube. Os irmãos Poppe, que haviam sido atletas em S. Paulo de um clube chamado Internacional indicaram esse nome, que foi logo aceito por todos. Foram também escolhidas as cores para o clube, vermelho e branco. Idealizado o primeiro uniforme que era composto de camisas listradas e gravata bicolor tudo vermelho e branco. Calções brancos. Foi estabelecida a mensalidade, a ser paga pelos associados, hum mil réis, por pessoa.

     Só que a seguir, ninguém a pagava e João Leopoldo, como presidente logo passou a arcar com todas as despesas que não eram poucas. Aluguel da nova sede na então Travessa Arlindo, vinte mil réis, uniforme, bolas, recepções, etc... E, de inicio foi organizada e realizada uma recepção para o Esporte Clube Rio Grande, que visitava Porto Alegre, para jogar com o Grêmio.

     João Leopoldo contava rindo sobre o primeiro jogo contra o Grêmio, quando o recém fundado Internacional apanhou de dez gols a zero, no dia 18 de junho ou julho de 1909. “Loucura”, dizia João rindo, como jogar contra um time fundado em 1903? ... Mas era o início de u grande clube...

     Cinco anos depois o Inter já conquistava seu primeiro título estadual em sua história, ficando tetracampeão em 1917. Então, já contava com uma forte torcida, verdadeiramente popular.

     A torcida para quem foi criado, passou a responder desde então, até os dias de hoje, sempre crescendo.

     João Leopoldo orgulhou-se sempre do clube fundado em sua casa, do qual foi o primeiro presidente, especialmente segundo dizia, por ter sido um clube criado exclusivamente por brasileiros.

     João Leopoldo, me lembro, já com mais idade, não gostava de ouvir pelo rádio ou assistir pela televisão quando o Internacional jogava, pois ficava muito nervoso, preferia após terminado o jogo perguntar: Como foi? Ganhou? Perdeu? Por quanto? Que time jogou melhor? Que time jogou pior? Qual jogador jogou melhor? Qual jogou pior?

     Na verdade ele nunca foi jogador de futebol, apenas um apreciador. Dos esportes, o que ele mais sistemáticamente praticava, quando jovem, era o de remador. Futebol ele somente assistia, não jogava.

     Enquanto vivo era sócio honorário e Conselheiro do Internacional e vários pretendentes à Presidência do Clube em época de eleições o procuravam para solicitar seu apoio e voto.Tabém era mantida correspondência ativa e recebidos convites para particiar de reuniões e eventos.

     Também devotados aficcionados do clube freqüentavam nossa casa visitando João e perguntando mais pela história do clube. Seu grande amigo Helio Dias possuia em sua casa uma grande e verdadeira exposição sobre o Internacional. Helio chegou a levar em nossa casa um reporter (Edison Pires) da Folha Esportiva, quando realizaram uma reportagem que partiu da realização de um "Passeio de Saudade" pela cidade de Porto Alegre, onde foram localizados fatos relevantes do Internacional. Esse passeio foi tambem ao novo, ainda em construção, Estádio do Internacional, o Beira Rio, onde João foi recebido por José Pinheiro Borda. Nesta reportagem, que foi publicada em 1º de abril de 1964, foram expostas várias fotos.

     Lembro-me especialmente das visitas em nossa casa de José Zilbenstein, grande aficionado cujo apartamento era lotado de coisas e lembranças do Inter, de outros amigos torcedores e pessoas das diretorias que se sucediam. Como Vicente Rao, esse, embora nunca tenha frequentado nossa casa, era frequentemente referido por João Leopoldo, após encontros casuais nas ruas de Porto Alegre.

     Por solicitação da presidência do Internacional, que queria montar uma exposição com quadros de todos ex-presidentes, sua imagem foi retratada em pintura. Tendo sido feitos dois quadros que se encontram na sede do clube na Beira Rio. Sendo reverenciado e colocado em primeiro lugar, já que foi o Primeiro Presidente.

     João Leopoldo Seferin faleceu com avançada idade em 29 de maio de 1974. Antes de sua passagem solicitou e foi atendido por seus familiares que fosse enterrado ficando de frente para o Estádio do Beira Rio, para que sempre pudesse olhar pelo clube que com seus amigos criou. Era uma pessoa espiritualizada,  espiritualista e voltada para o social.

     E João foi para sua última morada no cemitério João XXIII estando de frente para seu clube...

     No dia de sua morte o Inter (2) jogou contra o Chile (0). Quase ao final do primeiro tempo do jogo, as rádios anunciaram sua passagem, chocou-se a torcida que estava no Beira Rio.

     Os diretores, jogadores e o então Presidente Eraldo Herman e Agomar Martins solicitaram um minuto de silêncio antes da segunda etapa, como uma homenagem final ao criador e Primeiro Presidente. A homenagem final, silenciosa aconteceu...

     Foi dito na época:

     "João Leopoldo Seferin era um grande colorado, foi presidente do Inter com apenas dezenove anos. Com sua morte toda a família colorada enlutou..."

     E, a entidade criada pelos jovens rapazes cresceu, amadureceu, brilha como estrela no espaço do Rio Grande do Sul e mesmo do Brasil, completando cem anos em 2009, sempre sob o olhar agora espiritual, do Primeiro Presidente JOÃO LEOPOLDO SEFERIN e de todo o grupo de amigos.

     Autoria: Ida Maria M. Schivitz

 

 

    

    

    

    

    

     

    

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